A República Oligárquica, compreendida no período de 1894 a 1930, foi marcada por
grandes injustiças sociais. Todo o poder estava concentrado nas mãos das oligarquias
rurais do sudeste que se revezavam no governo. Estes só se preocupavam com seus
interesses, deixando o restante da população brasileira sem nenhuma assistência. Foi
nesse contexto que surgiram diversas revoltas em todo o país, entre elas, a Revolta do
Contestado.
Contestado era uma região de muita miséria localizada na divisa do Paraná com Santa
Catarina, seu nome é devido ao fato de ser disputada por esses dois estados. Durante
o período republicano, o governo doou terras para empresas norte- americanas
construírem ali uma estrada de ferro e uma serraria.
Para a construção da estrada de ferro, milhares de famílias de camponeses
perderam suas terras. Além disso, os camponeses foram expulsos de suas terras sem
nenhuma indenização. Este fato gerou muito desemprego entre os camponeses da
região.
Outro motivo da revolta foi a compra de uma grande área da região por de um grupo
de pessoas ligadas à empresa construtora da estrada de ferro. A responsável pela
construção foi a empresa norte-americana Brazil Railway Company, de propriedade
do empresário Percival Farquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber
and Colonization Company, uma empresa de extração madeireira. Esta propriedade foi
adquirida para o estabelecimento de uma grande empresa madeireira, voltada para a
exportação. Com isso, muitas famílias também foram expulsas de suas terras.
O clima ficou mais tenso quando a estrada de ferro ficou pronta. Muitos
trabalhadores que atuaram em sua construção tinham sido trazidos de diversas partes
do Brasil e ficaram desempregados com o fim da obra (cerca de oito mil trabalhadores
desempregados). Eles permaneceram na região sem qualquer apoio por parte da
empresa norte-americana ou do governo.
Em meio a essa situação de calamidade, a população buscou refúgio nas palavras
do “monge” José Maria, uma espécie de Antônio Conselheiro, que pregava a criação
de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viveriam em paz, com
prosperidade justiça e terras para trabalhar. José Maria conseguiu reunir milhares
de seguidores. Mesmo depois sua morte a rebelião continuou. Forças das milícias
estaduais foram derrotadas pelos rebeldes.
Os coronéis da região e os governos (federal e estadual) começaram a ficar
preocupados com a liderança de José Maria e sua capacidade de atrair os camponeses.
O governo passou a acusar o beato de ser um inimigo da República, que tinha como
objetivo desestruturar o governo e a ordem da região. Com isso, policiais e soldados
do exército foram enviados para o local, com o objetivo de desarticular o movimento.
De forma autoritária e repressiva, os governos do Paraná e de Santa Catarina,
articulados com o presidente Hermes da Fonseca, começaram a combater os rebeldes.
Embora tenham tido pouco sucesso nos dois primeiros anos do conflito, as forças
oficiais obtiveram, a partir de 1914, sucessivas vitórias sobre os revoltosos, graças
à truculência das tropas e ao seu numeroso efetivo, que contava com homens do
Exército brasileiro e das polícias dos dois estados.
Os soldados e policiais começaram a perseguir o beato e seus seguidores. Armados de
espingardas de caça, facões e enxadas, os camponeses resistiram e enfrentaram as
forças oficiais que estavam bem armadas. Nestes conflitos armados, entre 5 mil e 8
mil rebeldes, na maioria camponeses, morreram. As baixas do lado das tropas oficiais
foram
A guerra terminou somente em 1916, quando as tropas oficiais conseguiram prender
Adeodato, que era um dos chefes do último reduto de rebeldes da revolta. Ele foi
condenado a trinta anos de prisão. Cerca de 20 mil pessoas morreram no conflito.
A Guerra do Contestado só mostra a forma com que os políticos e os
governos tratavam as questões sociais no início da República. Os
interesses financeiros de grandes empresas e proprietários rurais
ficavam sempre acima das necessidades da população mais pobre. Não
havia espaço para a tentativa de solucionar os conflitos com negociação.
Quando havia organização daqueles que eram injustiçados, as forças
oficiais, com apoio dos coronéis, combatiam os movimentos com repressão e força militar. Contudo, apesar de todas injustiças, os sertanejos da região do Contestado lutaram, com todas as suas forças, por uma vida mais digna.